Sindicato Rural

Recuperação da economia americana e desaceleração chinesa fazem governo rever estratégia para balança comercial.

A retomada da economia americana e as perspectivas de um crescimento mais lento da China levaram a presidente Dilma Rousseff a determinar aos ministérios do Desenvolvimento e da Fazenda a elaboração de uma estratégia agressiva para recuperar o espaço perdido nos últimos anos, nas exportações do Brasil para os Estados Unidos. A ideia é aproveitar o momento de recuperação para ocupar esse vácuo com medidas em várias frentes. Estão em estudo iniciativas como a abertura do mercado de carne in natura e a negociação do fim das sobretaxas aplicadas ao suco de laranja e ao açúcar.

Em outra frente, o governo brasileiro cogita uma parceria com os Estados Unidos para uma atuação conjunta dos dois países na disputa pelo mercado chinês. Ambos são grandes fornecedores de soja, carne e frango aos chineses e poderiam, por exemplo, tentar negociar em conjunto essas vendas para ganhar força. Outra estratégia seria a de os dois países entrarem juntos na briga contra o ingresso maciço de produtos chineses de baixa qualidade ou preços abaixo do valor de mercado.

Dilma visitará os EUA no início de abril Também estão no cardápio campanhas promocionais diferenciadas dos produtos brasileiros nos estados americanos, de forma a explorar as peculiaridades de cada um.- (Os estados) são muito diferentes entre si. Cada um tem as suas peculiaridades, e, por isso, é preciso levá-las em consideração – disse um integrante do governo.

Pelo menos parte dessa estratégia deve ser concluída até a viagem da presidente Dilma aos EUA, no início de abril. O país já foi o maior parceiro comercial do Brasil, chegando a abocanhar uma fatia de 25% das exportações brasileiras, mas perderam a liderança para a China em 2009. Em 2011, sua participação na pauta de exportações brasileiras ficou em 10%, de acordo com dados da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB). De 2000 até o ano passado, o saldo comercial com os americanos passou de um superávit de US$ 300 milhões para um déficit de US$ 8,2 bilhões no ano passado, acumulando prejuízo de US$ 17 bilhões para a balança em apenas cinco anos. O resultado de 2010 representa o maior saldo negativo obtido pelo país na balança com os americanos e é o pior desempenho com um parceiro comercial.

Estudo da AEB indica que, “depois de expressivos superávits comerciais até 2008, o Brasil passou a gerar expressivos montantes de déficit, os quais se aproximam dos mais elevados níveis de superávits já alcançados, indiretamente anulando os ganhos comerciais obtidos”. O documento lembra ainda que, nas Américas, o Brasil só tem déficit comercial com EUA, Canadá, México, Costa Rica e Bolívia, sinalizando que o nível de competitividade nesta região é maior que em mercados da Europa, Ásia e até mesmo na África.

Parcela importante das compras americanas ainda são de manufaturados. Embora este percentual tenha oscilado próximo de 77%, entre 2001 e 2003 – quando começou a cair – manteve-se em 45,3% no ano passado. Para a China, os manufaturados representaram 4,6% do que o país exportou em 2011.

Para AEB, foco na China foi decisão política. De acordo com o estudo da AEB, o mercado dos Estados Unidos sempre foi o principal destino das exportações de manufaturados brasileiros, “mas a decisão política tomada na década passada de relegar a segundo plano o maior mercado importador do mundo, sem realizar uma única missão ou promoção comercial governamental naquele mercado, e ainda a dificuldade adicional gerada pela valorização do real, provocou queda em valor nas exportações brasileiras de manufaturados e também expressiva redução de 75% na participação percentual”.

Em 2011, o valor das exportações de manufaturados para o mercado americano foi apenas 0,6% maior que o valor de 2002, apesar de nesse período o total das exportações brasileiras ter crescido 323% e de manufaturados 179%. O documento da AEB ainda destaca que, em 2002, dos dez principais produtos exportados pelo Brasil, sete eram manufaturados e três, commodities. Em 2011, sete eram commodities e apenas três manufaturados. 

(Vivian Oswald – O Globo)

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